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Drops do mês

Drops de fevereiro: a leveza e o peso

a insustentável leveza do ser

O que aconteceu com fevereiro? Quando comecei a me organizar para as atividades do mês, ele simplesmente acabou. E a leveza do tempo que corre veloz, traz consigo o peso das coisas que não pudemos terminar…

Mal consegui ler um livro e meio e estou infeliz com minha lerdeza literária. Também peguei uma virose que pareceu durar metade do mês, o que o encurtou ainda mais, e me fez ficar horas assistindo a programas de reforma no Discovery H&H. Estudei muito pouco na minha especialização e o carnaval ainda veio para me levar pros bloquinhos de rua e para a frente da TV, para assistir às escolas de samba, especialmente as que pegaram pesado com as questões políticas (muito embora minha escolha tenha sido pela Mocidade, com o tema Elza Deusa Soares). No quesito cinema, meu mês também foi pobrinho: assisti apenas 1 filme, nos últimos minutos do segundo tempo desse mês fugaz.

Livro: A insustentável leveza do ser – Milan Kundera

Esse clássico da literatura faz justiça ao título, pois toda a narrativa é de uma leveza insustentável, ao mesmo tempo em que tem um peso e uma profundidade incríveis (o autor trabalha filosoficamente com a ideia dos opostos: a leveza e o peso, a alma e o corpo e isso aparece não apenas como conceito, mas no estilo da própria obra). É um livro em que a escrita é original, assim como a forma escolhida pelo autor para falar de coisas aparentemente banais: as relações, de um modo geral, mas especialmente as amorosas.

De fato, a maior parte do livro fala sobre amor, fidelidade e traição. Eu ainda não elaborei bem essa ideia, mas me pareceu que o autor tratou a traição, para o homem, como uma leveza, e para a mulher como um peso. Já as noções de fidelidade são diferentes para cada personagem, independente do gênero, e essa foi a perspectiva que eu achei mais interessante, porque fidelidade é realmente um conceito muito mais amplo e pessoal do que parece. De qualquer forma, vale a pena ler o livro para acompanhar toda a discussão e chegar às suas próprias conclusões.

A obra mistura conceitos e apontamentos filosóficos com romance e tem um plano de fundo político e social bem interessante (a discussão sobre regime comunista, liberdade e democracia na República Tcheca ocupada pela União Soviética é no mínimo instigante).

Eu ainda quero escrever com mais propriedade sobre o livro. No momento, estou no limbo literário, aquele lugar onde ficamos quando não digerimos completamente a obra e estamos entre a zona pura dos sentidos, mais pro inconsciente, e a compreensão mais ampla, mais próxima da consciência.

Filme: Viver duas vezes – Maria Ripoll

O filme da diretora espanhola Maria Ripoll é cômico e leve. Conta a história de Emilio Pardo, um brilhante professor de matemática que descobre que tem Alzheimer. A doença o faz ir em busca do amor de infância, porque sabe que irá esquecê-la, mas também o aproxima da neta adolescente e da filha, mostrando que a doença tem um poder transformador também para os familiares. A história não se aprofunda no lado dilacerador do Alzheimer e prefere ficar no aspecto delicado: a memória é uma vida que se vive duas vezes.

Aleatoriedades: Incertidumbre, palavra mais bonita do espanhol

Incertidumbre: uma palavra que soa à altura de seu significado. Pesada, forte, obscura, mas potente. A incerteza (incertidumbre), de fato, é assim, pesada, obscura e potente em sua acepção, mas no português (incerteza) ela não carrega esse peso. Soa leve, falsa, como se as decisões pudessem nos escapar a qualquer momento. Incertidumbre traz o peso necessário, nos faz pensar com seriedade nas nossas escolhas, elas parecem menos voláteis, mais sólidas. É a palavra mais bonita do espanhol.

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