Eu sei como ninguém o quanto pode ser difícil concluir projetos.
Lidei e ainda lido com a insegurança e o perfeccionismo que me tornam uma pessoa com tendência à ansiedade. É um efeito bola de neve: a ansiedade me conduz à autossabotagem, a autossabotagem me torna uma procrastinadora, sempre temerosa de não conseguir fazer as coisas direito, a procrastinação me impede de fazer tudo o que eu preciso fazer e não dar conta de tudo me faz sentir uma impostora, aquela pessoa que até parece valer alguma coisa, mas que uma hora todo mundo vai descobrir que era uma farsa.
Crenças e atitudes nada agradáveis, não é mesmo? E que vão corroendo por dentro. Até que chega uma hora em que ou a gente se coloca no papel da pessoa incapaz, o que não é nada promissor, ou muda o comportamento e aprende a lidar com a sensação paralisante que impede a gente de fazer o que a gente quer fazer.
É possível.
Lembro de ouvir uma colega de graduação dizer que a monografia era só um trabalho como outro qualquer. Então, quando chegou o momento, ela foi lá e c’est fini. Já eu esperei muito por esse momento e reuni todos os meus esforços para fazer minha pesquisa. Foi um longo processo envolvendo crises, ansiedades, novas crises, novas ansiedades, num ciclo que não parecia ter fim.
Sei que entre a minha colega e eu existia um sentimento muito diferente em relação à monografia. Eu queria não só fazer algo bem escrito e correto, mas também honesto, relevante, original e me realizar fazendo minha pesquisa. Afinal, eu realmente acreditava naquilo.
Apesar de dedicada, minha colega não tinha pretensão alguma de fazer algo que fugisse de um trabalho comum, um trabalho que fosse além de seguir alguns passos conforme a orientação. Por outro lado, ela tinha foco, objetividade, segurança e desprendimento (da necessidade de fazer algo relevante) e como eu passei a admirar isso!
Hoje reconheço que a minha experiência foi problemática não só porque eu pretendia fazer uma pesquisa honesta. Na verdade, eu também tinha medo de fazer algo errado, incoerente, insuficiente, portanto, tinha medo de falhar. E isso foi crucial para o tamanho do meu sofrimento em fazer esse trabalho.
Outro dia, dando uma geral no email, encontrei um rascunho que era um desabafo sobre como eu demorava para fazer as coisas, sobre minha incapacidade em terminar aquilo que eu começava, etc, etc. Foi então que eu me dei conta de como tinha mudado, principalmente porque eu já não escrevo lamúrias assim.
Resolvi responder ao meu “eu antigo” e a resposta são os 10 conselhos a seguir:
1) Aprenda a ter constância
É fato que dá trabalho manter os próprios projetos de pé, mas ou a gente se dedica com constância ao que faz ou não consegue levar isso adiante. Você precisa levar a sério o seu trabalho e se esforçar para manter um ritmo. Importante: aprendi que constância tem muito a ver com o quanto a gente confia e se sente à vontade com o que está fazendo. Insegurança e perfeccionismo empacam a gente.
2) Lembre-se de que feito é melhor que perfeito
Os perfeccionistas são as pessoas que mais tem dificuldade em dar cabo das coisas. Quanto mais crítica você for, mais seu próprio trabalho vai parecer insuficiente. Mesmo que você acredite que não talento, saiba que talento também se constrói. É com a prática que a gente vai melhorando e, se você não se permite dar alguns passos porque acha que ainda não está bem, como é que vai conseguir fazer melhor algum dia?
3) Aprenda a ter assertividade
Cora Coralina disse que descobriu no caminho incerto da vida que o importante mesmo é decidir. A certa altura, percebi que muitos dos meus projetos não andavam porque eu ficava me perguntando se estava indo pelo caminho certo. Às vezes, é preciso meter uma ideia na cabeça sem muito espaço para dúvidas. Não se trata de ser inflexível ou acrítica, porque isso é muito ruim, mas de ter assertividade.
4) Tenha mais autoconfiança
5) Dê espaço para o feedback, mas tenha critério
Ouvir o que os outros têm a dizer sobre o nosso trabalho é essencial. Mas a linha entre ouvir um conselho que vai te ajudar a melhorar e se deixar levar pelo que é importante para os outros, e não para você, é muito tênue. Autocrítica, reflexão e um pouco autoconfiança ajudam a ir decidindo o que realmente você quer fazer. Lembre-se: você só vai fazer bem o realmente importa para você.
6) Não queira ter controle de absolutamente tudo
O maior medo da pessoa insegura/ansiosa é não ter controle de tudo que envolve seu projeto. Acontece que não dá para prever como as coisas acontecerão o tempo todo. Às vezes, a ideia inicial não é a melhor. Às vezes, a gente deixa de acreditar naquela coisa. Às vezes aquilo em que a gente acredita não é a melhor escolha. Além disso, shit happens, como diria Jessica Jones. Não tem problema. Quando algo foge ao nosso controle, a gente precisa de resignação e coragem, para seguir em frente e recomeçar.
5) Aproveite melhor o seu tempo
É engraçado. Se eu soubesse como era a vida com filhos, eu teria aproveitado melhor meu tempo, porque agora sei o quanto o tempo é um privilégio. Antes eu não dava conta de assistir uma vídeo aula, de cinco minutos que fosse, se dali a dez eu tivesse que sair de casa. Eu sei que isso tem a ver com ansiedade, mas agora eu procuro aproveitar cada mísero minuto para fazer algo útil. Por exemplo: é melhor escrever um rascunho de texto às pressas quando eu tenho uma ideia boa na cabeça, do que ter que começar do zero quando eu tiver um tempo maior disponível, porém sem ter nada em mente.
8) Não espere pelo momento ideal
Essa é uma das coisas mais difíceis para mim. Não é incomum eu achar que não estou pronta para algo ou que meu trabalho ainda não está bom. Não vou publicar isso, porque ainda não está pronto. Não vou entrar naquele projeto, porque ainda não estou pronta. O momento ideal é aquele em que a gente faz as coisas. A melhor oportunidade é a que a gente tem. Também não existe maturidade ideal para saber que caminho tomar, maturidade é outra coisa. É preciso fazer escolhas, tomar decisões, ter constância, coragem e seguir pelo incerto para ver no que vai dar. Parece um clichê motivacional, mas eu tenho que admitir que é verdade.
9) Leve em conta que a vida tem altos e baixos