Quando eu tinha 6 anos, dizia pra todo mundo que eu queria ser escritora. Eu também queria ser cantora, atriz e modelo, professora, presidente da República, arquiteta e estilista.
Acho que ninguém sofreu tanto quanto eu pra escolher um curso na época do vestibular. Embora eu tivesse dificuldade com matemática, adorava estudar e até hoje meu maior tormento é ser ignorante. Odeio não saber das coisas, de todas as coisas. E talvez por isso eu estude, estude, estude…
Quando eu era criança, a minha família viajava muito de carro. Nós íamos do Pará até Minas Gerais todos os anos, visitar minha família paterna. Essas viagens eram um grande acontecimento pra mim. Eu sentia um “gostinho de mundo”, uma sensação de infinitute e liberdade. Meu gosto de aprender, conhecer e descobrir era ainda maior quando eu via tantas paisagens, cidades, pessoas e estradas, muitas estradas… eu amava as estradas…
Eu olhava pela janelinha do carro aqueles horizontes azulados e desejava que, quando eu crescesse, eu pudesse explorar o mundo, suas belezas e culturas, fotografando e filmando e mostrando pras pessoas. Eu não lembro de assistir programas de viagem na infância, mas na minha concepção infantil, era algo mais ou menos assim que eu queria fazer.
Meu pai assinava a revista National Geographic e eu passava muitas horas olhando aquelas fotografias de povos distantes, lendo sobre suas peculiaridades, grandiosidades e problemas. Eu queria fazer fotografias tão encantadoras quanto aquelas e escrever textos tão bonitos quanto os daquela revista.
Tive muitos sonhos, mas alguma coisa daquelas viagens, das estradas, do desejo de ver o mundo e falar sobre ele nunca me abandonou. Não sei se é porque existe um destino ou se é porque as memórias, quanto mais antigas e relembradas, mais fortes se tornam, mas o desejo de escrever continuou me assombrando, tanto como um desejo, quanto como uma missão.
Apesar da minha dificuldade em escolher uma coisa só e tendo começado nada menos que 4 graduações ao longo dos meus 20 anos, eu acabei me formando em Ciências Sociais, fiz mestrado e agora faço meu doutorado em Antropologia Social, na Universidade de Brasília. Meu interesse por fotografia e cinema também me trouxe boas oportunidades e experiências. Entrei no maravilhoso mundo da antropologia visual, fiz ensaios fotográficos, aprovei projetos em editais, fiz documentários, ganhei [nunca sozinha] alguns prêmios.
Mesmo assim, todos os anos, quando olho pra mim mesma, não vejo nada muito diferente da adolescente meio perdida, oscilando entre sonhos retumbantes e as próprias inseguranças diante da vida.
E, de todas as coisas que eu consegui, porque corri atrás ou que me aconteceram [já que o destino parece mesmo ser uma força que opera nas nossas vidas], ser mãe foi a mais louca. Mesmo com dificuldades e crises, por ter que abrir mão do meu próprio tempo na maternidade, acho que me tornei uma pessoa melhor.
Talvez porque foi o evento que me fez colocar pessoas, desejos, vaidades e os problemas do mundo em perspectiva, como se eu olhasse desde o espaço e tudo fosse tão pequenininho e insignificante, diante da responsabilidade de cuidar de uma vida, que de repente as coisas tenham se tornado mais simples e descomplicadas pra mim, uma pessoa de natureza almodovariana.
Mas também porque, num universo que pode estar repleto de desengano, o que pode ser mais verdadeiro do que um amor genuíno vindo de um serzinho de olhos grandes e brilhantes?
E essa sou eu, hoje.
Amanhã, quem sabe?
Ah, a propósito, meu nome é Alexandra e o serzinho de olhos brilhantes é a Aimée, a amada.

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