Bahia Salvador

Salvador

salvador

Quando pensava em Salvador, cidade que eu não conhecia, as cenas que povoavam meu imaginário eram da ficção: os meninos de rua vivendo em um trapiche, na obra Capitães da Areia, de Jorge Amado, e o assassinato dos meninos pobres no Pelourinho, mortos por um policial militar durante o carnaval, na série Ó paí, ó, de Monique Gardenberg. Dois cenários tensos que reúnem a degradação (situação de rua, pobreza, banalização da vida negra e pobre) e o espetáculo (a natureza exuberante e a festa popular, que atraem o turismo).

Com tal apelo, eu só conseguia imaginar uma cidade violenta, artificial e apelativa. Felizmente, eu estava enganada. Não que Salvador não tenha seus problemas, como todo o Brasil, mas talvez porque tivemos sorte de estar nos lugares certos e com as pessoas certas, a cidade que eu vi era, antes de tudo, encantadora. Eu nem queria mais voltar para casa…

salvador
salvador por do sol

Pelourinho

pelourinho

Fomos ao Pelourinho várias vezes, em horários distintos e cada um deles ofereceu uma diversidade de coisas a fazer e uma variedade de olhar. Em nossa última visita, no início da noite de uma sexta-feira, estranhamos encontrar a maior parte do comércio fechada, com exceção de bares e restaurantes.

Um amigo local corroborou nossa tese: em Salvador, as pessoas valorizam o direito à cidade delas. E sexta-feira é o dia de curtir a cidade e suas festas. O Pelourinho é muito representativo dessa aura que Salvador tem e embora dispense grandes apresentações, não custa reforçar que vale muito a pena ir lá.

Igrejas

igreja da ordem terceira do carmo salvador

Dizem que Salvador tem uma igreja para cada dia do ano e o centro histórico tem uma grande concentração delas. Uma das igrejas principais, a Igreja da Ordem Terceira do Carmo, tem uma arquitetura impressionante e única no Brasil.

A história dela é bem interessante: foi construída em 1644 e ganhou a fachada atual apenas em 1705. O exterior da igreja geralmente é associado ao barroco, mas remete também ao movimento plateresco espanhol, uma fusão dos estilos gótico e renascentista. Isso faz com que a construção lembre um pouco as igrejas europeias.

igreja da ordem terceira do carmo salvador

Em meados do século XIX, o interior da igreja foi transformado no estilo neoclássico, bastante comum nas igrejas brasileiras do período. As colunas gregas, em cor branca, em contraposição aos rebuscados ornatos do barroco e do rococó, são uma característica desse estilo, assim como a simetria das construções. Já os azulejos, oriundos de Portugal, são uma adaptação do Brasil ao neoclássico, cuja intenção era quebrar a sobriedade e racionalidade do neoclássico trazido da Europa.

igreja da ordem terceira do carmo salvador
igreja da ordem terceira do carmo salvador

Sempre tem algo interessante por trás da história dessas igrejas (experiência de anos visitando igrejas brasileiras). É uma pena, porém, que faltem guias turísticos – ou guias turísticos preparados – para conduzir as visitas. E isso se repete na maioria das cidades históricas que visitamos. Algumas coisas que vemos só ganham significado se temos alguém preparado para falar a respeito enquanto conhecemos o lugar. Áreas da igreja, como o subsolo, também passam batidas se não há um guia para indicar a entrada.

igreja pelourinho

As ruas do Pelourinho

A visita às igrejas e museus era o que a gente mais gostava de fazer. Mas o Pelourinho é um museu a céu aberto, de história, arte, gastronomia, cultura. Andar por suas ruas é sempre muito agradável.

Visitamos muitos sebos, que além de charmosos, sempre tinham algo interessante. E às vezes, nem eram os produtos, mas as conversas com os responsáveis pelo lugar. Salvador é uma cidade com muita gente simpática e generosa. Voltamos com muitos presentes: de amigos, de hippies, de vendedores de sebo… eram livros, acessórios, brinquedos, longas conversas com pessoas que não conhecíamos até então. Isso sempre faz a viagem valer mais a pena.

pelourinho igreja
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Farol da Barra

farol da barra salvador

O Farol da Barra é um dos cartões postais da cidade e realmente é lindo de se ver. Subir o farol é uma atividade bem penosa, mas vale a pena ver o mar lá de cima. O museu dentro do forte também é bem interessante.

farol da barra salvador
farol da barra salvador

Comida

Salvador é a única cidade que visitamos que não deixou a desejar em nenhum dos nossos critérios de turismo gastronômico: 1) a comida sempre era boa, 2) as porções eram sempre generosas, 3) na maior parte do tempo encontrávamos comida regional, 4) o valor era justo.

O restaurante mais marcante foi o Zanzibar, Culinária Africana. Como comemos bem! Não só pela comida gostosa, mas pelo atendimento acolhedor e pela delícia que é o lugar. Pedimos um prato chamado Ebubu Fulô, um peixe com molho de camarão e gengibre, acompanhado de purê de banana da terra e arroz branco.

zanzibar salvador

Pedimos uma porção de acarajé, que veio fechadinho, com tudo que vai dentro servido ao lado pra gente montar. Não pedimos sobremesa, mas acabamos ganhando de cortesia três porções deliciosas: bolinho de estudante, do qual nunca tinha ouvido e é uma das melhores coisas da terra (um bolinho doce de tapioca que parece uma nuvem, coberto com açúcar e canela), um doce de banana caseiro divino e a melhor cocada que eu já comi na vida, fresquinha, delicadíssima, fantástica.

culinária baiana

Outras coisas maravilhosas que provamos: a carne de fumeiro, que é uma carne de porco defumada deliciosa, que eu nunca nem tinha ouvido e um peixinho chamado Pititinga, frito inteiro. Também amamos a Seriguelaroska, uma “caipiroska” da melhor fruta do mundo, a seriguela e tomamos um sorvete imenso e delicioso na Sorveteria da Ribeira, que soubemos que é um clássico da cidade. À propósito, Salvador entende minha fome…

casa de Iemanjá Salvador

Outra coisa deliciosa é passear no final da tarde pela cidade, vendo pequenos cenários urbanos locais. O pôr do sol, os barquinhos, banhistas, surfistas, pescadores. Cada pedaço tem uma beleza e uma poesia. Com tanta coisa bonita, não surpreende que seja um lugar de onde saíram tantos artistas.

Salvador respira originalidade, cultura e ancestralidade. E isso é perceptível na comida – a melhor do Nordeste, na minha opinião. Acredito que uma boa culinária sempre expressa uma cultura forte, marcada por uma tradição que se manteve viva às mudanças do tempo.

Eu amei Salvador. É uma energia, algo que a gente sente e que faz não ter vontade de voltar para casa.

***

Ps.: Uma das melhores coisas de se conhecer um lugar, é conhecer também as pessoas. Tive uma boa impressão de Salvador em grande parte por isso, pela simpatia com que éramos tratados em todos os lugares. Mas muito além da receptividade na rua, também fomos acolhidos por amigos que nos receberam como se fôssemos da família. Passar nossos últimos dias na casa do seu Zé, da dona Vilma, da Janaína, do Fernando e do Chico sempre será uma de nossas melhores lembranças dessa visita a Salvador.

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