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Desenvolvimento infantil Notas sobre

O dia em que eu vi e registrei um salto no desenvolvimento da Aimée

Em tempos normais é difícil mensurar o quanto aquilo que fazemos com nossos filhos impacta no desenvolvimento deles. É notório que o tempo de qualidade juntos, os momentos de leitura, os passeios ao ar livre e as atividades manuais são coisas que contribuem para desenvolver habilidades cognitivas, emocionais e sociais.

No entanto, a criança vai para a escola, se relaciona com outras pessoas e a aquisição de novas habilidades acontece sem que a gente pense em que lugar, com quem e em que medida cada atividade influenciou nesse processo.

Apesar de termos ficado em casa durante os 2 primeiros anos de vida da Aimée, nunca estivemos confinados como estamos nesse isolamento por pandemia, e os mais de 5 meses de quarentena acabaram servindo como um laboratório.

Como eu mostrei em uma outra publicação, nós fizemos muita atividade manual durante esse tempo em casa. De fato, sempre gostamos e estimulamos brincar com tinta, massinha, papel e afins, por serem coisas divertidas, que as crianças amam, e que favorecem a atenção, a concentração, a criatividade, as habilidades motoras e tantas outras coisas que contribuem para o desenvolvimento delas. Nessa quarentena, também tem sido uma forma de aliviar a tensão de todos em casa, além de evitar tempo excessivo na frente das telas.

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Justamente pelo hábito em fazer essas atividades, eu fiquei admirada quando vi Aimée criar sozinha uma colagem, uma cena náutica (rs), usando papel, tesoura e cola. Eu vi e registrei o momento em que a minha criança deu um salto no desenvolvimento e isso foi fantástico, algo que talvez em tempos normais eu não tivesse a oportunidade de observar.

Primeiro ela me pediu papel e tesoura para brincar e eu reuni os materiais de sempre: papel branco, papeis coloridos, tesoura, cola, furador… então ela começou a cortar e me disse que faria um barco. Como costuma acontecer com crianças pequenas, primeiro ela cortou um papel azul e depois, vendo a forma que ele tomou, decidiu que faria o mar (não mais o barco).

Com 3 anos de idade as crianças ainda não tem plenamente desenvolvida a capacidade de premeditação. Isso significa, por exemplo, que elas desenham seus rabiscos e, ao observar a forma que tomam, decidem o que é. Ou então dizem que vão desenhar um gato e, terminado o desenho, percebem que se parece um pássaro e decidem que é um pássaro – “esquecendo” que a ideia inicial era desenhar um gato.

Crianças maiores conseguem planejar algo e executar em seguida, enquanto as menores vão elaborando conforme fazem: elas pensam conforme fazem – nem o “pensar” e o “fazer” estão separados, nem o pensar vem antes do fazer!

Esse é o motivo da minha fascinação: depois do momento inicial decidindo que aquela forma era uma onda, Aimée começou a montar toda a colagem baseada numa ideia prévia, cortou mais papeis azuis, até formar todo o mar, e em seguida decidiu que faria um barco e um pirata para completar o cenário.

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Por último, ela me impressionou ao escolher o modo como faria as velas do barco. Eu sugeri cortar a ponta de um papel, para fazer um triângulo, acreditando que ela simplesmente o colaria como se fosse uma vela, mas não. Ela me pediu palitos de churrasco, pediu que eu quebrasse uns pedaços e só depois colou no papel. Em seguida dobrou os triângulos no meio, com o palito dentro.

Ela também pediu olhinhos autocolantes e ajuda para fazer o chapéu do pirata. Tudo isso deixou claro para mim a consciência e atenção plena da Aimée na atividade que ela ia desenvolvendo.

A despeito do fato de ser a mãe, me fascinou a capacidade da Aimée em planejar e executar, do início ao fim, algo dessa complexidade, uma paisagem cheia de elementos, usando algumas técnicas mais sofisticadas do que o (não tão) simples cortar e colar papel. Escolher palitos de churrasco para criar uma vela de barco, por exemplo, é uma demonstração de desenvolvimento da flexibilidade cognitiva, a capacidade de transformar uma coisa em outra, de relacionar coisas, de criar.

Também me surpreenderam suas habilidades motoras finas ao cortar com a tesoura e colar coisinhas pequenas, o cuidado com os materiais, a concentração e a criatividade.

E fiquei pensando no quanto todos aqueles dias em que o pai ou eu ficamos fazendo colagens e recortes com papel e rolo de papel higiênico, e criando bichinhos a partir daquilo, tinham contribuído para o desenvolvimento dessas novas habilidades – que são normais para crianças dessa idade, mas não são naturais, ou seja, não vão aparecer por simples maturidade fisiológica; devem ser aprendidas, na medida em que são estimuladas.

Com paciência e dedicação, com tempo junto de qualidade, com respeito e afeto à criança, com muitas brincadeiras e mais leveza no nosso dia a dia, a gente contribui muito para um desenvolvimento saudável dos nossos filhos, mesmo que não dê pra mensurar e observar como num laboratório – e nem precisa.

Como eu tenho estudado neurociência na minha pós-graduação em educação, foi muito legal identificar que processos cognitivos estão envolvidos nesse salto de desenvolvimento da Aimée. Esse vai ser tema de uma próxima publicação na categoria Desenvolvimento infantil aqui no meu blog. Inté lá! 🙂

2 thoughts on “O dia em que eu vi e registrei um salto no desenvolvimento da Aimée”

  1. Que linda sua Filha! *-*

    Eu sempre me fascinava (e ainda me fascino) com as coisas que minha filha consegue fazer, muitas vezes, sozinha. Na idade da Aimée, a Harumi também adorava fazer colagens e modelar com massinha.. Gosto de incentivar esse tipo de atividade tbm, embora agora com um pouco mais de idade (jajá faz 7 anos) ela prefira jogar joguinhos online. Mas claro que sempre com um horário determinado, embora prefira coisas fora da tela, também não posso impedi-la de conhecer e desenvolver essas habilidades cada vez mais presente nas nossas vidas.

    adorei a matéria, irei ler mais tópicos com certeza <3

    1. Por aqui as telas e os joguinhos são adorados. Ela vai fazer cinco anos e nos primeiros anos evitei telas o máximo que pude, mas a pandemia degringolou tudo. Fazer o quê, né? Tento compensar com atividades alternativas mais manuais, que antes eu fazia pensando no desenvolvimento dela e em passar tempo de qualidade juntas, e agora eu faço também pra compensar o tempo nas telas. rs

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