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Narrativas Visuais: A Feira do Açaí em Belém/PA

Visitar a Feira do Açaí, em Belém, é uma daquelas coisas que só acontecem quando temos a oportunidade de conhecer a cidade com os pés. Quer dizer, de andar pela cidade com interesse genuíno de vivê-la não só em sua expressão turística, mas também em seu cotidiano. É quando a gente encontra as coisas que dão densidade a um lugar, que nos levam ao movimento mais real da cidade e da beleza que existe nas artes do fazer humano, mesmo nas contradições.

O açaí começa a chegar nas primeiras horas da madrugada, vindo das ilhas produtoras ao redor da capital paraense. Centenas de paneiros de açaí, cada um pesando cerca de 13 kg, são retirados dos barcos e negociados na Feira do Açaí, num trabalho que perdura até o início da manhã.

O movimento dos homens é hipnotizante: trabalhadores que estão nos barcos empilham os cestos na cabeça dos que estão na água. Com a maré baixa, os carregadores de açaí levam os paneiros até o cais, onde um terceiro trabalhador se encarrega de pegá-los e enfileirá-los no chão. Os paneiros de açaí são vendidos e por fim levados por outros carregadores até a feira.

Impressiona como os homens, musculosos pelo esforço desse trabalho, conseguem equilibrar vários cestos empilhados na cabeça e nos ombros. E como às vezes jogam paneiros cheios de açaí uns para os outros, sem que as frutinhas caiam no chão.

Esse é um dos trabalhos que não se vê quando se toma açaí, apenas um dentre os vários pontos da cadeia produtiva do fruto que se tornou tão apreciado fora do estado, e até do país, e que tem ficado cada vez mais caro para a população local.

O trabalho de carregador de açaí, ofício que ultrapassa os séculos, é informal e rudimentar, sintoma de uma sociedade em que economia, tecnologia e qualidade de vida e trabalho nem sempre seguem uma ordem concomitante e crescente de “progresso”. Pelo contrário, podem coexistir em níveis distintos, dependendo de onde e para quem acontecem.

A destreza e habilidade desses homens, porém, é no mínimo digna de admiração. E foi com esse sentimento que passei horas observando seus movimentos, enquanto eles diziam, aos risos, que ficariam famosos com essas fotografias.

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Fotografia: Alexandra Duarte,  (Feira do Açaí, 2013).

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